“Amazônia no Antropoceno” é tema de palestra do PPGS
A palestra patrocinada pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia ( PPGS), foi ministrada terça-feira (4), às 9h, no auditório Rio Solimões do Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (IFCHS) pelo professor Nicholas C. Kawa, da Ohio State University. O evento é uma realização do Laboratório de Análise de Redes, Políticas Públicas e Governança do PPGS.
A palestra proferida pelo professor Nicholas abordou aspectos de um livro seu sobre o assunto e os novos programas que está desenvolvendo na Amazônia peruana. Falou também das contradições do Antropoceno e como a Antropologia pode questionar e complicar conceitos dessa nova época geológica.
O pesquisador disse quanto o ser humano tem alterado radicalmente o planeta, implicando com sua interferência nos processos climáticos, biológicos e geológicos. “As distinções entre fenômenos naturais e culturais têm ficado cada vez mais problemático, apresentando várias contradições. Os maremotos e terremotos em vários lugares demonstra claramente que a humanidade não controla as forças do planeta”, afirmou
Esclareceu que, embora o Antropoceno seja debatido entre os pesquisadores, entende que ele é uma consequência do capitalismo industrial e da queima de combustíveis fósseis que estão transmitindo os impactos drásticos no clima do planeta. “O problema fundamental reside em certo eurocentrismo, já que muitos estudiosos localizam as origens do Antropoceno na Revolução Industrial da Europa”, justificou, acrescentando, que os países industrializados ficam como protagonista principal desse drama, enquanto os povos das nações não industrializadas são retratados como vitimas infelizes.
Segundo Nicholas, existem dois tipos de pessoas: aqueles que têm o poder de estragar o planeta, e aqueles que são impotentes para impedir seu estrago. “Esse enquadramento problemático da humanidade e sua relação com meio ambiente pode ser visto nas representações dos habitantes da Amazônia. As duas características mais comuns estão naqueles que destrói as florestas e aqueles que servem como guardiães veneráveis. Os primeiros, são geralmente os garimpeiros, madeireiros e fazendeiros , enquanto os segundo, estão os índios que vivem em áreas isoladas da região.”,explicou.
De acordo com o palestrante, hoje em dia a grande maioria dos habitantes da Amazônia não se alinha facilmente com essas duas representações. Apesar da região seja vista como periférica para o mundo capitalista industrial, ela forneceu látex para a Europa e América do Norte no ciclo da borracha. A sua inserção no sistema capitalista na época foi o motor que alimentou a industrialização moderna e, por sua integração ao sistema, a Amazônia atual é povoada de descendentes de pessoas que foram responsáveis por suas partes mais críticas, “porém, por manter uma forma instintiva de conhecimento ecológico devido ao envolvimento direto com o meio ambiente, por meio de atividades diárias, os ribeirinhos acabam por formar uma visão de relações entre o industrial, o humano e o meio ambiente que é bem diferente da visão do mundo que sustenta o Antropoceno”.